Acredito piamente que o problema está muito relacionado à logística, e logística, de uma forma simplificada e ilustrativa, pode ser entendida como a ferramenta que não só torna fácil o ir-e-vir de matérias-primas, informações e produtos, mas também os coloca sempre à disposição no local e na hora em que sâo exigidos.
Em ritmo de emergência, o governo tem anunciado investimentos módicos para combater a "fome" da nossa infra-estrutura, o que não deixa de ser relevante, pois o Brasil precisa atacar as emergências, fazer a lição de casa que estava muito atrasada, e isso não será tarefa fácil, pois demandará investimentos vultosos, incluindo os recursos a serem gerados pela Parceria Público Privada.
O problema é que isso, isoladamente, não basta para o nosso País. É preciso pensar a logística dentro de um Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Logística Nacional, que contemple a curto prazo, através das atenções às contigências, ações emergenciais, ajustes e direcionamentos como estamos começando a ver no momento. No médio prazo, deve-se dar atenção à transição de modelos e no longo prazo, com horizonte de 10 e 15 anos, deve-se direcionar o foco para sustentabilidade do sistema logístico brasileiro.
OS TRÊS PILARES DO PLANO
Acrescento ainda a meu raciocínio que esse plano não pressupõe atenção exclusiva ao transporte, mas a todas as áreas que compõem a logística nacional. Assim, ele concentraria esforços em três pilares fundamentais: a vocação logística e matriz de transportes dos estados e seus municípios-chave; os negócios atuais e as oportunidades econômicas regionais, incluindo criação de cluster e pólos; e os eixos de exportação associados ao desenvolvimento do comércio exterior. Esse plano, se bem estruturado, pode ser uma arma poderosíssima para a alavancagem planejada e coordenada de oportunidades econômicas regionais.
Há consenso entre especialistas que necessitamos investir algo em torno de US$ 80 bilhões nos próximos 10 anos para colocar nossa infra-estrutura de transportes num nível aceitável. Entretando, não tenho dúvidas de que tais investimentos não surtirão resultados para o desenvolvimento do País se não estiverem vinculados a um plano articulado entre o governo federal, estados, municípios, entidades de classe e a iniciativa privada.
Para quem teve um Marechal Rondon é difícil imaginar que um "apagão" esteja a incomodar tanto. è que o marechal, que viveu 92 anos, promoveu verdadeira revolução no Brasil. Geógrafo, fez levantamento de milhares de quilômetros de terras e águas, determinou longitude de mais de 200 localidades, increveu no mapa do Brasil mais de uma dezena de rios até então desconhecidos e corrigiu erros grosseiros sobre o curso de outros tantos. E ainda instalou milhares de quilômetros de linhas telegráficas.
Rondon foi muito mais do que ícone nacional. Seu nome está inscrito em placa de ouro na Sociedade Geográfica de Nova York, como o maios estudioso e explorador das terras tropicais. É por isso que, se estivesse vivo, o "apagão" logístico sequer teria acontecido, é que Rondon também era pura logística. De dois anos para cá, a expressão "apagão logístico" tem sido utilizada diariamente para indicar as mazelas da infra-estrutura de transportes e dificuldades de escoamento da produção. Nela, ha três significados claros: trata-se realmente de uma bem-cunhada frase; a infra-estrutura nacional clamorosamente está mambembe: e o Brasil ainda não mostrou, de forma consistente que quer eliminar tais gargalos.
Texto de autoria de :
* Presidente do conselho de administração da Associação Brasileira de Movimentação e Logística (ABML) e diretor-geral da Chep do Brasil.